KA152 – Wear the Change: Disseminação
A tarde em Rebordosa estava quente, abafada, com a luz a entrar pelas janelas da sala do 11.º RA. À frente da turma, Bianca, Letícia, Naiely, Naiany e o professor Rui Magalhães. Vieram falar, mas sobretudo vieram contar. Não uma história qualquer, mas uma experiência que os marcou.
Logo no início, a pergunta lançou-se: “Sabem o que é fast fashion?”
As respostas ficaram suspensas entre tímidas tentativas e silêncios. Foi o sinal para abrir caminho ao relato daquilo que viveram em julho, durante o projeto Wear the Change, na Croácia.
Contaram como em Planinarski Dom Omanovac a internet não funcionava nunca. E como essa ausência, que a princípio parecia uma falta, se transformou em ganho. Sem rede, sem notificações, sem a ilusão de proximidade digital, houve espaço para algo diferente: a verdadeira ligação entre pessoas. Conversaram mais, olharam-se mais, partilharam histórias, riram sem pressa. Descobriram que a falta de telemóvel aproxima, que desligar é também conectar-se.
E havia um simbolismo irresistível. Enquanto lá em cima, na montanha croata, se vivia essa experiência, em Portugal decorria a semana PBL com o tema “Desliga-te! Conecta-
te!”. Em Rebordosa, os colegas ouviam agora, em primeira mão, como essa proposta tinha sido vivida à letra.
Mas não se ficou por aí. A conversa entrou na realidade escondida por detrás das roupas que usamos todos os dias. Se as etiquetas dissessem a verdade, não trariam apenas instruções de lavagem ou composição de tecidos. Trariam palavras duras e incómodas: países subdesenvolvidos, trabalho infantil, exploração, químicos, jornadas excessivas.
Foi esse o desafio lançado na sala: cada aluno criou uma etiqueta simbólica para a peça de roupa que tinha à sua frente. Uma etiqueta que mostrasse a realidade invisível das condições em que tantas peças são produzidas. O exercício tornou visível o que habitualmente é escondido, despertando consciências e abrindo perguntas que não se apagam com facilidade.
No final, o ambiente já não era o mesmo. A tarde quente, a sala cheia, os rostos atentos. Ficou a sensação de que aquela aula foi mais do que uma aula. Foi um convite. Um convite a pensar, a questionar, a olhar para além das aparências.
E talvez seja essa a maior lição: quando desligamos do que nos distrai, ligamo-nos ao que importa.